2006-09-11

SARAMAGO
Foi em 1985, ou 1986. O meu filho mais velho tinha à volta de dez anos e era moço esperto. Curioso, lia os jornais. Um deles trazia um concurso sobre língua portuguesa, uma pergunta simples. Concorreu e ganhou um prémio. Lembro-me do seu sorriso quando recebeu uma embalagem com o seu nome. Abriu, o prémio era um livro: O Memorial do Convento, de José Saramago. Começou imediatamente a lê-lo. Ao fim da primeira página, olhou para mim, com olhos um pouco desgostosos e perguntou-me: “O livro é todo assim?”. Sorri e disse-lhe que não sabia, que não o tinha lido. E não tinha, o livro era relativamente recente. Passei a noite toda a lê-lo. No dia seguinte disse-lhe: “ Tens razão, o livro é um pouco difícil para a tua idade”. Tenho lido todos os livros do nosso prémio Nobel. Gosto de alguns, não gosto de outros. A técnica narrativa utilizada, com períodos muito longos e sem pontuação, não é a que me agrada mais. Mas os temas prendem-me a atenção. Não sei se o meu filho conseguiu ler o Memorial desde então, ou se leu algum livro do nosso grande autor. Penso que sim. Mas, se não o leu, leu outros, esses sei que leu: Eça, Vergílio Ferreira, Maria Velho da Costa… E fico a pensar por que razão prefere (prefiro) Vergílio Ferreira.