2006-10-09

Informação sobre mudança.
Por razões de ordem técnica, este blogue tem continuidade no blogue metakrítico. Pode aceder-lhe no seguinte endereço:
Obrigado pelo seu interesse.

2006-10-07

Quand les journalistes font blog à part

Estes blogues vieram desequilibrar as coisas. Agora eu posso, tu podes, ele, o jornalista pode. E quando o jornalista conta no blogue o que omite no jornal? Isto está a mudar...

Chaque jour, depuis janvier 2005, Jean-Michel Aphatie dévoile ainsi au public les coulisses de ses interviews. Comme d'autres journalistes, il utilise surtout le blog pour décrire l'envers du décor ou raconter les à-côtés de la vie politique. Des petits riens qui, parfois, peuvent signifier beaucoup. "Le journalisme obéit aussi à des lois comme le hasard et la pagaille, s'amuse le journaliste de RTL. C'est une activité humaine, et pas mécanique".
Les internautes, de plus en plus friands d'une parole et d'un ton moins "officiels", raffolent de ce nouveau genre de journalisme. En moyenne, selon les personnalités invitées, le blog de Jean-Michel Aphatie reçoit une centaine de commentaires quotidiens. (In Le Monde.fr)
OS TROCOS

Anteontem fui comprar pão, pão de trigo, daqueles pequeninos, tão pequeninos que nos fazem duvidar do peso. Geralmente, peço, a brincar, um euro de pão. Porque cada pão custa nove cêntimos, pago exactamente, todos os dias, noventa e nove cêntimos. Levo para casa onze pães, o que às vezes é muito e outras vezes é nada. Anteontem, como sempre, não recebi de troco nem um cêntimo. Ontem pedi doze pães, não sei porquê, mas pedi doze. Um euro e oito cêntimos. Procurei e voltei a procurar na carteira: não tinha oito cêntimos, só tinha notas de cinco. A empregada que me serve todos os dias sugeriu: leve só onze, é mais fácil a conta. Olhei para ela, muito sério. Disse-lhe que sim, que estava bem. Aguardei uns segundos à espera do troco. Ela olhou-me, interrogativa. Ao fim de uns segundos percebeu. Corou. Procurou na caixa e não encontrou um cêntimo para me dar. Disse-lhe: fica-me a dever um cêntimo. Hoje voltei lá, como sempre. Outra vez o cêntimo. Deu-me dois de troco. Juro que nunca mais me ficam com as migalhas.

2006-10-06


PROFESSORES DE LUTO EM LUTA

A nossa ministra tem razão quando quer reorganizar todo o sistema de ensino. A forma, porém, como quer fazê-lo, a forma como trata os professores, é aviltante. Quer pôr os mais velhos, os mais experientes, a comandar as escolas. A ideia é boa. Mas será que a nossa ministra já pensou que "os mais experientes" andam lá pelos sessenta e a sua expectativa era a de já estar na reforma? Acha-os motivados para dirigirem alguma coisa? Então insulta-os, humilha-os, tira-lhes direitos todos os dias, não lhes oferece absolutamente nada de positivo e ainda os quer pôr a dirigir o carro de bois empenado que é a sua escola? A nossa ministra é boa moça mas vive em Marte!

2006-10-04

MARIA FILOMENA MÓNICA

Ontem vi e ouvi, com muito interesse, uma entrevista de Maria Filomena Mónica na televisão. Eu já sabia que a senhora era bonita e inteligente, já tinha lido umas coisas dela, e confirmei-o. As suas ideias, a forma como se posiciona na vida, a coragem de escrever sobre si própria, tudo isso faz dela uma personagem fascinante. Gosto dela, mas não gosto de todas as suas opiniões acerca dos portugueses. Acho, aliás, que houve algumas contradições no seu longo discurso. Porque os portugueses têm muitos defeitos, mas não tantos. O que me aborrece neste tipo de discurso é o oitenta da coisa, o lado escuro, negativo. Porque nós temos coisas muito positivas, precisamos é de falar delas. Mas os pensantes, os baptistas, os fazedores de opinião, são assim, gostam de riscar a negro, de cima a baixo. E depois, esta mania de que os portugueses só foram bons no passado, este ritual discursivo em torno do mito do “eterno retorno”, já começa a chatear. Porque nós fazemos coisas boas, nós temos o Saramago, nós temos o Damásio, nós temos o Ronaldo e o Mourinho, nós temos a Filomena Mónica, enfim, nós até somos bons em muitas coisas. É ou não é, Filomena Mónica?

2006-10-03

QUE JORNALISTAS... QUE JORNALISMO...

Diz em A Bola de hoje o jornalista Carlos Pereira dos Santos:

Em Portugal, até é muito fácil um árbitro de futebol ser envolvido numa estrangeirinha e desminta de imediato, mas aproveitando o momento para atacar os jornais que «só querem vender», queixando-se assim como virgem ofendida. Curiosamente, os telefones estão desligados quando se quer falar com eles para os colocar perante as suspeitas, como ainda agora aconteceu com Paraty, que vociferou na Antena 1 contra os jornais mas manteve durante toda a tarde de domingo o telemóvel desligado. Um deles, pelo menos, porque pelos vistos tem vários. E oxalá estejam todos sob escuta.


Estes jornalistas… Ontem disseram que Paraty almoçou, ou jantou, com a pessoa X. Paraty desmente, diz que não almoçou nem jantou com ninguém. Eu acredito nele, porque me parece muito mais honesto do que alguns baptistas que baptizam em jornais pintalgados de algumas cores. E depois, por que carga de água há-de alguém ter o telefone ligado para atender o excelentíssimo jornalista? E quem é o excelentíssimo jornalista para se achar no direito de ter direitos especiais? Por acaso, se lhe apetecer, não pode desligar o seu telemóvel? E se tiver dois, ou três, alguém tem alguma coisa com isso? E depois, isto de desejar que um cidadão, só porque é árbitro, tenha o telefone sob escuta, é de bradar aos céus.
Que jornalismo, meu Deus… que jornalistas…

2006-10-02

CELEBRITOLOGY

LONDON (Reuters) - Pop star George Michael has been arrested and cautioned after being found once again slumped over the wheel of his car in London and in possession of cannabis, media said on Monday.

Robin Williams, 55, announced that he was seeking treatment for alcoholism less than two weeks after Gibson's high-profile arrest in late July.

In Washington Post

Celebritology sinónimo de necrology?

Por estas e por outras é que decidi não ser célebre. E podia sê-lo, pois a minha tia Maria já ferrou o cão!

2006-09-29

Numa proposta de lei ontem apresentada, o Governo vai criar um desconto de um por cento, inexistente até ao momento, sobre a pensão dos funcionários públicos aposentados.


Acho mal. O desconto deveria ser de 100 por cento. Afinal, para que servem os aposentados, hem? Como dizia o meu velhote, só andam aqui a encher monte. Prà valeta com eles, já!


Custou, mas lá conseguimos vencer os italianos. Parabéns aos jogadores, ao Carvalhal e a todos os que sofreram com a equipa. Agora, vamos ver o que se segue. Mas o Sporting de Braga está crescendo, crescendo...

2006-09-28

FORISTA

Na Internet, o Fórum, a praça pública onde se discutem assuntos especializados ou gerais, ganhou nova pujança. Há fóruns de tudo e mais alguma coisa. Curiosamente, se a tradição dicionarística não atribuía ao participante no Fórum nenhuma denominação, a sua ausência nos dicionários actuais é já incompreensível. É verdade que cada língua procura adaptar à sua índole potenciais neologismos que vão sendo propostos. Uns vencem, outros ficam pelo caminho. Em inglês, a proposta forumers não parece ter vingado, tal como em francês. Em espanhol, balança-se entre o forero e o forista, com primazia para o primeiro. Já estamos a ver porquê: rima com torero, símbolo nacional.
Em português, temos três possibilidades: forense, foreiro e forista, além de possíveis perífrases. Tanto forense como foreiro são, efectivamente, adjectivos relativos a foro, fórum. Mas possuem um carácter muito técnico, ora judicial, ora tributário ou enfitêutico.
Em português, parece-me que a palavra forista, adjectivo ou nome, é perfeitamente válida para definir "o que participa no fórum" ou " o que possui a qualidade de participar no fórum". Tem ainda a vantagem de ser uniforme quando determinado em género, feminino ou masculino. Na minha participação em fóruns, assumi escrever forista. Muitos outros "foristas" assumiram e assumem esta forma, e não tenho visto outra. Portanto, e salvo melhor opinião, proponho que se continue a escrever forista. No futuro veremos se a palavra venceu, e se é dicionarizada.
Hoje joga o meu Braguinha em Chievo. A rapaziada está moralizada, acho que vai correr tudo bem e vamos eliminar os italianos. Força, malta!

2006-09-27

TAXONOMIA

Há quem diga taxinomia, taxionomia, eu prefiro taxonomia.

A taxonomia é a ciência, ou a técnica, da classificação. Em biologia, por exemplo, o trabalho científico é potenciado pela descrição, identificação e classificação dos diversos organismos. Classificar, ordenar em classes, em subclasses, etc, significa sistematizar o mundo, significa ordená-lo em categorias psicológicas que correspondem a categorias existentes na própria realidade. E isso, parecendo simples, é extraordinário para toda a investigação científica.

Ao longo da minha vida, usei múltiplas taxonomias. Antes de as usar, porém, estudei-as. Lembro-me de, por exemplo, ter aprofundado algumas taxonomias relativas a objectivos da educação. Comecei com Bloom, passei por Mager, Landsheere, Guilford e d'Hainaut. Bloom continua a ser, parece-me, o patriarca. Tentei de todos eles obter o sumo mais saboroso, parecendo-me, no entanto, que o sumo tinha, em geral, um sabor semelhante. Talvez fosse defeito das minhas papilas "compreensivas"... Apenas d'Hainaut tinha algo de diferente.
Até d'Hainaut, projectei objectivos na minha perspectiva de professor.
Com d'Hainaut, aprendi a projectá-los na perspectiva dos alunos, das actividades cognitivas que a cada momento mobilizam.
A mudança de perspectiva tem implicações extraordinárias.
Desde que descobri Louis d'Hainaut, não obstante todas as críticas que lhe fazem, planifiquei sempre as minhas aulas com base nas actividades cognitivas que presumia nos alunos: reprodução, mobilização, conceptualização de conhecimentos, resolução de problemas... Entendi sempre, e entendo naturalmente agora, que uma boa planificação é importante para se dar boas aulas. Dar boas aulas sem planificação também é possível, mas...
Espanta-me, pois, que muitos professores actuais nunca tenham ouvido falar em taxonomias. Espanta-me que professores estagiários, jovens acabados de sair das universidades, não conheçam nenhuma taxonomia. Conhecem o nome Bloom. Já não é mau. Mas acho que não chega. É preciso reflectir sobre os conteúdos, sobre a forma de os ensinar e sobre o enquadramento de tudo isso em objectivos gerais do próprio ensino. O resultado será, tenho a certeza, muito compensador.
AMÁLIA, REPRESAS, VITORINO

Ouço Vitorino, menina estás à janela, e delicio-me com a genuína música portuguesa. Admiro os artistas que cantam a grande poesia. Amália cantou Camões; Represas canta Florbela Espanca, Vitorino canta o Cancioneiro. A canção de João Roiz Castelo-Branco é das coisas mais lindas escritas até hoje em português, e é perfeita na voz melodiosa de Vitorino ( in Leitaria Garrett):


Senhora, partem tão tristes
meus olhos, por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo-Branco, Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende (1516)

2006-09-26

PROVÉRBIOS

O calado é o melhor.

Da discussão nasce a luz.

Que chatice ter de escolher...

2006-09-25

INVESTIGAR NA NET, SIM, MAS...

Investigar na Internet é muito perigoso, exige muita cautela, porque muitas informações não são correctas. Procuro poetas espanhóis e vejo uma Anthology of Spanish Poetry. Vejo lá Gil Vicente, não me admiro, pois sei que também escreveu em castelhano. O poema que lhe é atribuído é, aliás, muito florido:

Del rosal vengo

Del rosal vengo, mi madre,
vengo del rosale.
A riberas de aquel vado,
viera estar rosal granado,
vengo del rosale.
A riberas de aquel río,
viera estar rosal florido;
vengo del rosale.
Viera estar rosal florido.
cogí rosas con sospiro;
vengo del rosale, madre,
vengo del rosale.

De Gil Vicente, diz o autor do sítio:

Gil Vicente
(? - 1557)

Gil Vicente passed his life in Portugal. He was of good family, although his history is far from certain. During his years at the Portuguese court he wrote many plays, a large number in Spanish with Spanish motives.

Aquela referência a (? - 1557) deixa-me de nariz ao lado. Gil Vicente passou a sua vida em Portugal? Claro, se ele é português...

http://users.ipfw.edu/JEHLE/POETRY.HTM

2006-09-24

WordPress Blogs of the Day

Leio, tento compreender, participo. Sou um leigo na matéria, mas quero aprender. Viajo neste WordPress Blog of the day, analiso os blogues que estão em primeiro lugar. Não fico de boca aberta, porque aos poucos vou aprendendo os mecanismos, a ética, ou a anti-ética. Abro-os e que vejo? Nada! Estas páginas não têm nada, não têm conteúdos, não têm ideias, nada que se aproveite. Por que razão estão em primeiro lugar? É fácil. Aproveitam o momento, falam da Daniella Cicarelli, criam ligações, remetem para o YouTube, para o Ebay para o raio que os carregue. Conhecem as técnicas e aproveitam-se delas. A ética? Que é isso? E depois, não esquecer o sexo, a política, a economia. Meio caminho andado para lá chegar. Conteúdos? Não são necessários. Quero fazer a experiência. Vou contabilizar os incrementos, como sói dizer-se. Eu disse incrementos, não disse excrementos.

Ah, a da Daniella Cicarelli é que está a dar. A mocita fez sexo na praia. Coisa de somenos. Nós fazemos sexo na cama, na banheira, no elevador, no jardim e até nas dunas. Ela, coitada, fez a coisa na praia. O mundo ama, o mundo adora a fofoquice.
Les sanglots longs
Des violons
de l'automne
Blessent mon coeur
d'une langueur
Monotone.

Verlaine, Chanson d'automne

2006-09-22

REGISTOS DE LÍNGUA

O Doutor Anacleto Bonifácio Pires é catedrático na Universidade Alpina do Gerês e especialista em biodiversidades. Em pleno parque natural, muito próximo da Peneda, possui um laboratório onde analisa pormenorizadamente todos os caules, todas as flores e todos os frutos que por ali encontra. É um grande estudioso. Tão estudioso e sapiente que acaba de publicar na revista Ciência e Vida um extenso e profundo artigo sobre a morus nigra, espécie de amoreira existente mesmo nas encostas de Vilarinho das Furnas. Diz ele, nesse artigo, que "A morus nigra é uma árvore caducifólia, de folhas simples e lobadas, cujos frutos vermelhos e pretos têm uma polpa carnosa e agridoce". Lembro-me de, numa conversa, ele ter-me dito exactamente a mesma coisa, o que demonstra as possibilidades da língua, tanto oral quanto escrita, para dizer as mesmas coisas. Sempre admirei o Doutor Anacleto pelo cuidado com que normalmente fala, e pelo cuidado com que escreve, embora nos seus escritos literários ele use um estilo, um registo um pouco diferente. Adoro as suas metáforas relacionadas com a natureza. Lembro-me daquele seu poema em que diz:

Oh serra verde do Gerês,
Sobre ti, águia liberta,
Eu voo em voos matinais...

Conheço o Doutor desde pequeno, percorremos juntos um longo caminho. O que mais me agrada nele é a sua maneira de ser, a forma como se adequa às diversas circunstâncias da vida, a forma como adequa a sua língua a essas mesmas circunstâncias. Digamos que eu vejo nele, como direi, alguns tipos sociais bem diferenciados. Aqui há tempos, ouvi-o conversando com outro catedrático, cirurgião, numa linguagem que não entendi. Dizia o médico, mais ou menos isto:

Amanhã vou fazer uma operação e preciso de uma bala de oxigénio. Acabou a que tínhamos e sem ela não posso operar.

Quando se despediram, eu pedi-lhe desculpa e dei-lhe conta da minha ignorância. Ele sorriu e explicou-me que o amigo usara uma gíria médica, umas expressões que os médicos usam entre si e que todos compreendem. Fiquei então a saber que a "bala de oxigénio" é um cilindro de oxigénio, uma botija.
Talvez não saibam, mas o Doutor é um grande atleta, joga futebol de salão com os amigos. Quem o conhece fica de boca aberta quando, em pleno jogo, ele desata um " F*d*-se, passa a bola, c*r*lho". Afinal, ele também usa palavras de um registo mais baixo, mais popular e obsceno, o calão. Mas di-lo sempre sem intenção de ofender. Eu acho graça quando ele grita para o Inocêncio, "Oh Inoxênxio, paxa a bola!". Partimo-nos a rir, porque esta característica fonética regional ( ele viveu a sua juventude lá para os lados de Amarante), este regionalismo, dá-lhe um ar amigo e formidável.
Todos gostam do Doutor Anacleto. Os amigos disputam a sua companhia, os seus familiares adoram-no. Quando ele se lhes dirige naquele registo familiar tão peculiar e diz Olha a minha bichaninha, anda cá, meu amor, dá cá um chi-coração , ficam todos babadinhos.
Este grande amigo é um espectáculo. É uma síntese de tudo e de todos. Tem em si o homem culto, o catedrático, que usa um registo de língua elevado, culto, tanto na escrita como na fala. É também um escritor, um poeta, e usa o registo literário adequado. É, no entanto, um homem normal, usa normalmente a língua que é usada por toda a gente ( a língua-padrão). Mas também conhece e usa outros registos, que aprendeu ou que lhe são intrínsecos, naturais, como a gíria,o calão, o regionalismo ou a própria linguagem familiar.
Pessoalmente, agradeço ao Doutor Anacleto por me permitir escrever este texto, que é a prova mais do que provada de que é muito difícil distinguir níveis ou registos de língua, e que, na maior parte das vezes, nós usamos uma mistura de acordo com as nossas necessidades e com as circunstâncias em que vivemos no nosso dia-a-dia.



Palavras-chave: registos de língua, níveis de língua, léxico, registo literário, registo cuidado, norma, língua-padrão, registo familiar, gíria, calão, regionalismo

2006-09-21

Mensagem de Francisco Gadunhas

De Francisco Gadunhas, morador em Vilarinho das Furnas, recebi o seguinte texto:

Caro amigo:

Acompanho com interesse os seus escritos. Li o último sobre o mito da mulher de bigode. Confirmo que não é mito: ali em baixo, numa casita que dá para o rio, mora uma velhota que tem um bigode maior do que o meu. Não sei se rapa as pernas, mas o bigode está lá en su sítio.

Abraço, e continue!

Ah, e gostei da Ana Afonso, chiça, que a gaja é boa com'ó milho!

2006-09-20


PORTUGAL E A (SUA) MITOLOGIA

Mito nº 1 - A mulher portuguesa é feia, barriguda, usa bigode e só serve para mulher a dias.

Este mito, difundido pelos confins da Amazónia e até na kangaroo Austrália, não tem qualquer fundamento. Ultimamente, os franceses sorriem à sua entrada na escola, os ingleses já só se põem a dez metros de distância e até os espanhóis, pasme-se, já descobriram que as portuguesas medem tanto quanto las chicas de su pueblo. Pelos vistos, as nossas queridas são mais rechonchudinhas do que as anorécticas das célebres passarelas e vai daí o governo apontou-as como exemplo. Quanto ao bigode, é mentira, elas já rapam tudo. A Gillette acaba de informar sobre o número de vendas de lâminas de barbear e Portugal aparece em primeiro lugar. E não são os homens, porque esses cada vez estão mais carecas. Finalmente, a mulher portuguesa é bela, muito bela, superlativamente belíssima. A par das brasileiras, são as maiores consumidoras de silicone, o que prova o aprofundamento estético. Quanto à valoração profissional, as nossas mais-que-tudo são do baril, as maiores, e já ocupam lugares de privilégio. Deixaram de saber latim e de dizer nim, mas dizem frenética e orgulhosamente oh sim, oh sim.

PS - Obrigadinho à Ana Afonso, desculpa lá o abuso, mas tu matas o mito.
A BARCA DO INFERNO

Que bens fizeste na vida
que te sejam cá guiantes?
Se bem me lembro, Gil Vicente escreveu muitos Autos, uns mais bem conseguidos, outros nem por isso, mas todos eles com um espírito crítico assinalável. O que mais me admira no nosso grande dramaturgo é a sua capacidade para criticar grandes e pequenos, numa época de dependências e subserviências várias. Se olho para os Autos da Barca do Inferno, do Purgatório e da Glória, vejo quase todas as personagens-tipo serem encaminhadas para a barca do Inferno, que é o lugar ideal para quem passa a vida fazendo o mal. Fidalgos, onzeneiros, judeus, procuradores ( Barca do Inferno), lavradores, tafuis, regateiras, frades (Barca do Purgatório), nenhum escapa ao destino simbólico das chamas. Mas o clímax desta caminhada encontramo-lo na Barca da Glória, onde progressivamente condes, duques, reis, imperadores, bispos, arcebispos, cardeais e até os papas ( pela luxúria e pela soberba) são colocados no Inferno, sem salvação possível. No meio de tudo isto, escapam figuras como o Parvo, ou os Quatro Cavaleiros, um porque é parvo e não tem culpa de o ser, outros porque lutaram pela fé de Cristo e assim se purificaram.

À pergunta do Anjo, Que bens fizeste na vida que te sejam cá guiantes?, o que responderiam personagens equivalentes da nossa actualidade? O que diria o professor, o médico, o dirigente de futebol, o ministro e até o papa? O que diria eu? Ponho um dedo na testa e.

2006-09-19


COMO AS ÁGUIAS
Encontrei na Internet um texto surpreendente quando recolhia informação sobre as águias. Simples e surpreendente. De Fábio Luciano Violin, professor brasileiro, universitário. Achei o texto tão interessante que me atrevo a repeti-lo, com a devida vénia ao autor.

Como as Águias


A águia é uma ave surpreendente e fascinante. Ela pode chegar a viver até 70 anos!
No entanto, aos 40 anos ela está com suas unhas compridas que a impedem de agarrar suas presas, o bico fica alongado e pontiagudo e suas asas envelhecidas dificultam o vôo.
Diante dessa situação ela tem apenas duas opções: morrer ou enfrentar um processo doloroso, sacrificante e difícil de renovação. Assim, ela voa para o alto de uma montanha e em total isolamento dá início a sua renovação.
Começa por bater com o bico contra a rocha até que ele seja totalmente arrancdo. Quando o novo bico então nasce ela o utiliza para arrancar as unhas. Após o crescimento das novas unhas ela arranca as penas velhas. Todo o processo leva em média 150 dias.
O resultado é que ela pode voltar a voar alto, caçar seu alimento e viver por mais cerca de 30 anos!

Esta é uma história que circula pela internet e se pararmos para prestar atenção ela nos ensina muitas lições.

Muitas vezes nos sentimos cansados, desanimados, descontentes com nossa vida, nosso emprego. Por vezes perdemos a nossa “força para voar”. Perdemos a esperança e a perspectiva de dias melhores.
Diante dessa situação temos duas opções: desistimos e nos conformamos ou enfrentamos o tão doloroso, mas, necessário processo de renovação.
Porém, o mundo não para porque temos problemas. Podemos comparar nosso processo de renovação e aperfeiçoamento como o de um avião que precisa ser abastecido e concertado em pleno vôo, ou seja, o mundo não vai parar pelo facto de termos problemas ou necessidade de melhorarmos ou nos renovarmos.
Esta renovação constante é tão importante quanto respirar, aliás é ela que nos faz respirar, ganhar novo ânimo e seguir em frente.
Por mais difícil que seja a jornada de cada um de nós, por maiores que sejam os nossos problemas , angustias e preocupações, é preciso sempre lembrar que as dificuldades são comuns a todos e que alguns simplesmente passam a vida lamentando outros passam a vida realizando.
Seguem algumas dicas práticas:

- Fique pelo menos uma vez por semana sozinho e repense seus passos, repense suas realizações, reveja seus objectivos, reveja como vem conduzindo sua vida pessoal e sua carreira. Tire um tempo para re-alinhar ou reajustar suas metas e objectivos.

- Reveja periodicamente seus conceitos. O que hoje é válido pode não o ser daqui a 3 meses. No entanto, não se torture com os erros, deixe-os para trás, aprenda com eles, mas deixe-os para trás. Isto não significa que você deva cometer novamente os mesmos erros, ou se conformar por não ter atingido seus objectivos totais ou parcialmente. Este exercício serve para repensar sua forma de agir e não como uma forma de auto justificar-se pelas falhas.

- Aprenda com as situações novas e arme-se contra velhos problemas.

- Corte vícios, mesmo que aos poucos, mas corte sempre.

- Perca o medo de assumir-se como ser limitado e que precisa de constante renovação pessoal e profissional.

A vida é uma questão de atitude, o sucesso é uma questão de atitude. Crescer e prosperar são uma questão de atitude. Fazer-se um ser humano melhor...Uma obrigação para connosco e para com aqueles os quais são tão importantes para nós.
VIVA PORTUGAL!
O Ministro da Saúde diz que os utentes vão pagar mais taxas moderadoras, operações, serviços diversos. O Ministro das Obras acabadas e por acabar diz que o compromisso deve ser geracional, e que todos devem pagar portagens nas scuts. O Ministro da Educação diz que os alunos devem pagar propinas muito mais altas. O mesmo diz que os professores ganham muito e que vão ganhar metade. O Ministro das Berlengas está pensando instituir um imposto especial para cada cagadela. Ao mesmo tempo, já disse que o IRS vai aumentar, e se não disse está pensando dizê-lo. Os ministros X, Y e Z dizem que estão neste momento a estudar o habitat das águias na Peneda, Gerês. E isso porque há habitantes da serra que beneficiam escandalosamente com os excrementos das aves, que são, como se sabe, um excelente adubo. O povo português abre a boca de espanto com a acção governativa, e bate palmas incessantemente. Estamos a caminho da consolidação orçamental, o défice já só está em 4 vírgula tal e estes gajos é que são bons. O Zé da Esquina já mandou guardar dez quilos de labrestos para fazer umas sopitas, à falta de couves no quintal. Diz ele que o seu avô adorava daquelas sopas e era esguio e muito saudável. Acha a acção governativa um must, pois contribui para o emagrecimento geral. Também acha os governantes do melhor, pois são corajosos nas medidas contra o povo. Já o Tio Manel não vai na onda e diz que nunca viu igual, e que nem no fascismo se via tamanha gatunagem nem tamanha corrupção. E diz mais, diz que isto só à bomba. Mas o Tio Manel é analfabeto, coitado, não sabe o que diz.

2006-09-18


ANA MALHOA
Ontem o Herman recebeu lá na SIC a Ana Malhoa. A moça até está bem bonita, já lá vão os tempos da pequenada, e ela trata da sua vidinha. Sim, porque ninguém vai dar-lhe nadica de nada, a não ser tricas e invejas. O seu sítio oficial está todo prafrentex, mas é uma forma de marketing perfeitamente aceitável. Há quem não goste da música? Há quem não goste do microfone? Há quem não goste das mamitas? Que se lixem, não é, Ana? Por cada palerma que não goste, há mil que suspiram. Força nisso!
KIZOMBA - ANGOLA - FAZ AMOR COMIGO

Teu sorriso iluminado
Vejo evolução em mim
E por tudo o que é sagrado
Nunca imaginei que ele era alguém assim
Vendo água cristalina
Veio procurando o mar
O desejo me alucina
Faço qualquer coisa para você ficar

Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração
Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração

O teu jeito apaixonado
Os teus olhos cor de mel
O perfume do pecado
Que me faz sonhar, chegar até ao céu
Teu abraço é meu sossego
O teu corpo o meu calor
Teu carinho é o meu chamego
A felicidade tem o teu sabor

Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração
Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração

Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração
Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração
Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração
Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração

Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração
Faz amor comigo
Faz amor comigo
Me tira desta solidão
Vem matar minha saudade
Faz essa vontade do meu coração.
Bom dia!
Hoje acordei muito bem disposto, ao som de Kizomba.. Gosto destes jovens e destas músicas sensuais.
E se lhes oferecesse umas letras? Ai vai uma: Faz amor comigo.

2006-09-17



MEMÓRIA DAS MOEDAS CORRENTES EM PORTUGAL, DESDE O TEMPO DOS ROMANOS
Está disponível na internet, digitalizado pelo Google, este importante livro, publicado em 1856 por Manuel Bernardo Lopes Fernandes. Em português, há, na minha opinião, mais dois livros fundamentais para o conhecimento da nossa numária:
1- ARAGÃO, A. Teixeira de, Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em Nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, 2 ed., Porto, 1964. ( dois grossos volumes).
2 - GOMES, Alberto, Moedas Portuguesas e do território português antes da fundação da nacionalidade.Lisboa, 4ª edição, 2003.
Para quem quiser aprofundar estudos sobre a moeda e sobre os metais usados, pode consultar as referências bibliográficas desta ligação: Moeda e metais monetários em Portugal .



GAUDÍ E O ADAMASTOR

Espanha fica aqui ao lado. Sempre que posso, percorro calmamente as belezas da Galiza. Este ano espantei-me com a destruição da paisagem, em resultado de grandes incêndios. A Galiza é, hoje, o mesmo Portugal queimado, e dói ver tanta beleza destruída. Esta imagem aviva-me outra na memória. Há anos, descíamos do inferno de Andorra, cujas montanhas ardiam e cujo céu assustava de tão negro. Dirigimo-nos a Barcelona perseguidos pelo cinzento, aéreo, Adamastor e parámos perto da Plaça de la Sagrada Família, junto à catedral inacabada de Gaudí. O cenário era dantesco, a nuvem negra poisava literalmente nos picos da catedral e prevíamos que a todo o momento se abririam as comportas do céu. Decidimos sair imediatamente de Barcelona em direcção a Madrid. Quando lá chegámos, sentados a tomar tranquilamente um “curto”, vimos na televisão as imagens aterradoras de uma Barcelona submersa. Daquela vez salvamo-nos do dilúvio. A imagem da catedral de Gaudí, do Adamastor e das águas furiosas ficou para sempre.

2006-09-16

POEMA MEU VIII

sempre que tu ó vida me apeteces
e singras ofegante nos quintais
eu serpenteio eu trino nos teus ais
e tu de seio em riste me enlouqueces

mergulho-te nas malhas que me teces
e assim cruzados sofro mais e mais
relâmpagos estrondos carnavais
tu dás-me o seio eu dou-te o que mereces


Copyright José Silva
ANGOLA

Eram quatro. Dirigiram-se a mim, humildes, com uns documentos na mão. Disseram-lhes, em Lisboa, para se apresentarem na Escola X. Traziam um cheque individual, eram sete da tarde, os bancos estavam fechados. Compreendi rapidamente que eram estudantes bolseiros, que estavam esfomeados e que estavam num mundo diferente. Dirigi-me à cozinha da escola, pedi à cozinheira que lhes desse algo para comer. Eram quatro e devoraram tudo. Às nove da noite percorri com eles a cidade, encontrei-lhes alojamento, adiantei-lhes algum dinheiro. No dia seguinte lá estavam, acertámos tudo, inscrevi-os em duas turmas. Tiveram muitas dificuldades mas venceram-nas, com muita canseira e suor. Acompanhei-os durante mais uns anos, dois acabaram a universidade. Somos grandes amigos. Sei que tenho em Angola quatro lares que me receberão de braços abertos se um dia ali for. Um grande abraço de amizade para os quatro. Um grande abraço para Angola, pátria irmã.

2006-09-15



MAMARRACHO
Por definição, um mamarracho é uma pintura, uma escultura ou uma obra arquitectónica defeituosa. Olhem bem para a fotografia: onde está o defeito? O que mais admiro nos artistas é a sua capacidade para esteticizar o que, eventualmente, não tenha estética nenhuma. Neste caso, o Campo da Vinha fica lindo, a igreja do Pópulo ao fundo tem um enquadramento espectacular, ajudado pelo espelho de água bem aproveitado pelo artista. Não sei o seu nome, aproveito-a sem autorização, mas bato-lhe palmas. Porque a verdade é que, do outro lado, não há espelhos de água. E aquela obra arquitectónica à esquerda não se enquadra absolutamente nada na paisagem. Com um pouco mais de inteligência e sensibilidade estética, o Campo da Vinha podia ser um espectáculo. E não é. Está melhor do que estava dantes? Sem dúvida. Está mais bonito? Está. Podia estar melhor? Nem se pergunta.
O BRAGA GANHOU
Finalmente, uma boa notícia desportiva: o meu Braguinha ganhou ao Chievo, de Itália, e prepara-se para entrar na fase de grupos. Estão todos de parabéns. A nossa cidade bem merece estar entre a elite do futebol europeu.

2006-09-14


CAMUS

Há um único problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se vale ou não a pena viver a vida é responder à pergunta fundamental da filosofia.
Leio os existencialistas: Sartre, Camus, Simone de Beauvoir. Leio também Kaffka. E entristeço-me, porque têm da vida uma visão negativa, demasiado negativa para o meu gosto. Dirão que, para a maioria das pessoas, a vida é mesmo assim, escura, rude e difícil de viver. Mas se não encontrarmos uma luz lá no centro da escuridão, resta-nos o suicídio. Se eu responder à pergunta fundamental de Camus, agindo, terei tempo de saborear a solução do problema?
EMMA SHAPPLIN

Lembro-me bem. Trovejava intensamente, raios cruzavam-se pelo ar, fui à janela e vi um fogo de artifício extraordinário. Na rádio, uma música forte, uma voz timbrada e inesquecível ajudava-me no enquadramento. Alguém me tinha sugerido já aquela voz, mas ouvi-a então quase em êxtase. Era Emma Shapplin, linda, romântica, doce e francesa. Não descansei enquanto não consegui toda a sua discografia. Continuo a ouvi-la com encantamento. O álbum recente, ETTERNA, confirma-a. Vou ouvi-la sempre.

TINTIN

Encontrei no fundo do meu baú alguns exemplares de Les aventures de Tintin. Velhos e bons tempos!... Por onde andam o Patinhas, o Fantasma, o Mandrake, e tantos outras personagens que nos preencheram o imaginário? Os jogos de computador, as play-station, os messenger, os telemóveis e as sms, cumprirão a mesma função no universo infantil? As nossas crianças, os nossos jovens vivem num mundo substancialmente diferente. E nós temos de acompanhá-los. Só uma coisa não muda nunca, pois é universal: o amor, o carinho que sentimos uns pelos outros e que nos dizem que somos os mesmos humanos.
ENGLISH HUMOR

In the park, somewhere in London one gentleman sits on the grass, kissing young girl. Policeman comes to them and says:
- Finish, guy!
Gentleman answers with pride:
- No, sir! I'm British!



TEATRO CIRCO
Leio no sítio da Câmara Municipal de Braga que o Teatro Circo poderá ser visitado a partir de 1 de Outubro. É uma notícia excelente. O Teatro Circo é uma referência incontornável da cidade, e desejo que as obras entretanto efectuadas o tenham melhorado substancialmente. Moura Coutinho, o grande arquitecto, bem o merece. Estou ansioso por ver todo o "novo" edifício, o museu, e as actividades culturais que se realizarão em tão nobre e para mim saudoso lugar.

2006-09-13

O GÉNERO FEMININO

A propósito do género da palavra Angola, diz, no Ciberdúvidas, C.R. ( presumo ser Carlos Rocha), em 13.09.2006:

De acordo com a regra geral, o nome próprio Angola é feminino por terminar em –a.
Não me parece feliz esta afirmação. Com efeito, não me parece existir tal regra de formação do feminino, embora seja verdade que a maioria das palavras portuguesas terminadas em –a seja feminina. C. R. tem consciência desse facto pois, em parágrafo posterior, ressalva que:
os nomes de países terminados em -a nem sempre são femininos: «(o) Quénia», «(o) Uganda», «(o) Camboja»
O elemento que determina o género feminino não é o –a do final da palavra, mas o determinante que a precede. Por isso dizemos A Angola que eu adoro, e não O Angola que eu adoro, ou O poema que li ontem e não A poema que li ontem.
GIL VICENTE, OS JOVENS E OS BÁRBAROS

Os jovens atletas do Gil Vicente protestam contra decisões que os impedem de praticar desporto. Bato-lhes palmas, acho que o seu protesto devia ser ainda mais vigoroso. Considero inacreditável que um conjunto de dirigentes idiotas e, ao que se vê, corruptos, decidam sobre o desenvolvimento físico, intelectual e moral de jovens que apenas querem ser jovens e crescer de forma sã. Se as leis permitem isto, há que destruir as leis, e fazer outras que sejam justas. Que os organismos internacionais e nacionais que comandam o futebol profissional se cabeceiem, insultem ou rastejem. Mas que deixem os jovens em paz. Estou com os jovens contra os bárbaros.
ZAMPHIR

Pela noite dentro, leio, escrevo e ouço Zamphir. Só, incessante, um som de flauta chora. Pessanha e eu.

2006-09-12


DALAI LAMA
Hoje fui aos Correios, na Avenida, em Braga. Finalmente aquilo está comme il faut, quem espera pode ler livros e revistas, assim, sim! Enquanto esperava, peguei num livro do Dalai Lama, sentei-me e comecei a lê-lo. Uma revelação! Sabe tão bem sentir o espírito a pairar sobre nós, ler sobre o bem, a bondade, a compaixão ou o amor... Vou querer ler tudo dele. Eu era o número 12; quando dei por ela já ia no 15. Nunca gostei tanto de esperar como hoje.
COMEÇARAM AS AULAS
Primeiro dia de aulas. O P. acordou alegre, levantou-se às sete e trinta, há quanto tempo não se levantava assim? A escola fica perto, vai a pé. Continua com os mesmos amigos, chegou uma aluna nova, de quinze anos, disse-me maroto… As professoras de Português e Geografia são as mesmas, as outras são todas novas. Disse-o com pena, porque gostava de todas as professoras. Porque mudam assim os professores de ano para ano? E porque são quase todos mulheres? Porque não acompanham os alunos durante o ciclo de aprendizagem, que neste caso é de três anos? O P. só tem treze anos, gosta da escola e de jogar futebol. Eu acompanho-o o mais possível, gosto de o acompanhar. Assim, vamos sendo felizes.

2006-09-11

SARAMAGO
Foi em 1985, ou 1986. O meu filho mais velho tinha à volta de dez anos e era moço esperto. Curioso, lia os jornais. Um deles trazia um concurso sobre língua portuguesa, uma pergunta simples. Concorreu e ganhou um prémio. Lembro-me do seu sorriso quando recebeu uma embalagem com o seu nome. Abriu, o prémio era um livro: O Memorial do Convento, de José Saramago. Começou imediatamente a lê-lo. Ao fim da primeira página, olhou para mim, com olhos um pouco desgostosos e perguntou-me: “O livro é todo assim?”. Sorri e disse-lhe que não sabia, que não o tinha lido. E não tinha, o livro era relativamente recente. Passei a noite toda a lê-lo. No dia seguinte disse-lhe: “ Tens razão, o livro é um pouco difícil para a tua idade”. Tenho lido todos os livros do nosso prémio Nobel. Gosto de alguns, não gosto de outros. A técnica narrativa utilizada, com períodos muito longos e sem pontuação, não é a que me agrada mais. Mas os temas prendem-me a atenção. Não sei se o meu filho conseguiu ler o Memorial desde então, ou se leu algum livro do nosso grande autor. Penso que sim. Mas, se não o leu, leu outros, esses sei que leu: Eça, Vergílio Ferreira, Maria Velho da Costa… E fico a pensar por que razão prefere (prefiro) Vergílio Ferreira.

2006-09-10




POEMA MEU VII

Estou aqui sentado nesta onda,
Que a vida sobe e desce e vai em recta,
O guarda ali atrás acaba a ronda,
Olho o longe delineando a meta.

Há duas, há três horas que aqui estou,
Mais cinco e dez minutos vão rasgando,
Eu já não sei se fico ou se vou,
Eu já nem sei, meu Deus, se aqui ando.

Eu quero ir além, mas se lá chego,
A linha avança, afunda-se no mar.
Às vezes é melhor o aconchego
Do instante em que se saiba amar.

Copyright, José Silva

2006-09-08


DINHEIRO - D. DINIS e D.PEDRO I

D. Dinis e D. Pedro cunharam dinheiros em oficinas monetárias de Lisboa.
Tipologicamente, não há grande diferença entre os dinheiros dos dois monarcas, o que torna a classificação por vezes difícil. Distinguem-se, fundamentalmente, pela diferença entre o P e o D, iniciais dos seus nomes. Porque o estado de conservação destas moedas é, em geral, muito fraco, a dificuldade em classificá-las é ainda maior.

Os dinheiros de D. Dinis e de D. Pedro têm as seguintes características, cf. Maria José Pimenta Ferro, Catálogo, Biblioteca Nacional de Lisboa, 1978 :

A – ANVERSO
a) Cruz potêntea de braços levemente curvos.
b) Cruz potêntea de linhas de braços perpendiculares e extremidades acentuadas.
c) Cruz pátea.

A cantonar a cruz há os seguintes elementos:
a) 2 estrelas e 2 crescentes.
b) 4 estrelas.
c) 2 minguantes e 2 crescentes.
d) 1 crescente e 3 estrelas.
e) 3 crescentes e 1 estrela.
f) 2 estrelas e 1 crescente.
g) 1 estrela e 2 crescentes.
h) 2 estrelas.
i) 2 crescentes.

A legenda, entre dois círculos granulados, é a seguinte: REX PORTVGL (com algumas variantes, ver AGOMES).

B - REVERSO
Cinco escudetes em cruz a cortar a legenda, cinco besantes dispostos em aspa.
A legenda, ALGARBII, surge no canto superior direito, superior esquerdo e, em poucos casos, inferior esquerdo.

C - MÓDULO E PESO

Variam entre 18,6 mm e 14,7 mm; 1,06 g e 0,39 g.

Os dinheiros de D. Pedro I são muito mais raros, logo mais valiosos.

MOEDA BELA: O QUE É A BELEZA?
Para definir a BELEZA, eu partiria de duas perspectivas, a da ARTE e a do AMOR. Depois, tentaria pôr as duas numa balança assim meio etérea, e veria para que lado descairia a coisa. É evidente que uma moeda tem, entre outros valores, um valor artístico. Assim, meio de rompante, nós achamos bela uma moeda romana ou grega de traços bem definidos, um ceitil frágil, um cruzado resplandecente de Sebastião. E pensamos nos artífices, nos artistas que fizeram tal obra de arte. Depois, de entre sestércios, ceitis ou cruzados doirados, nós escolhemos o frágil ceitil, como escolhemos, em determinado momento da nossa vida, a "frágil flor", uma mulher, que doravante amamos. Ao amar o ceitil, faço prevalecer o AMOR sobre a ARTE. E aqui, creio, sou platónico, mas um platónico consciente e sempre de olhos fixos na balança. A BELEZA é, para mim, essencialmente AMOR.

2006-09-01

BELA MOEDA ou MOEDA BELA?

Leio, por vezes, frases com adjectivos qualificadores deste tipo. Há, na língua portuguesa, um grande conjunto de adjectivos cujo funcionamento sintáctico-semântico não é uniforme. Com adjectivos classificadores, por exemplo, o posicionamento pré-nominal não é aceitável: português povo // povo português. Outros adjectivos qualificadores potenciam ambiguidade: homem político // ?político homem. Há, no entanto, um determinado tipo de adjectivos qualificativos que mudam de abrangência significativa consoante são colocados antes ou depois do NOME. É o caso do adjectivo BELA, por exemplo. Se pararmos um pouco para pensar, concluiremos facilmente que uma BELA MOEDA não é obrigatoriamente uma MOEDA BELA. Na taxonomia classificatória usada na numismática portuguesa, BELA é um estado de conservação específico, mas tal estado só é objectivamente atribuído se o adjectivo BELA estiver à direita do NOME. Se estiver à esquerda, o factor objectivo esbate-se, para dar lugar a uma apreciação que é já subjectiva. Desconfie, portanto, se um vendedor disser, de uns simples 50 reis de D. Luís: “Trata-se de uma bela moeda”. O mais certo é estarmos em presença de uma moeda em estado regular, ou BC. Acredite que, se a moeda estiver BELA, o vendedor dirá mesmo: MOEDA BELA!

2006-08-29

CUNHAR E FUNDIR

Cunhar e fundir são dois processos de obtenção de objectos com formas ou relevos determinados.
De acordo com o Dicionário das Ciências de Lisboa, cunhar e fundir são dois processos definidos da seguinte maneira:

Cunhar – Imprimir cunho num metal, dando origem a uma moeda.
Fundir – Fazer passar ou passar um corpo, uma substância, do estado sólido ao líquido, por acção do calor. // Executar peças vazando metal derretido em moldes para que, ao solidificar, adquira determinada forma.


Para compreendermos a definição de cunhar, convém definir o que se entende denotativamente por cunho.

Cunho – Peça de ferro temperado ou de aço, gravado com inscrições e imagens, utilizada para marcar moedas, medalhas ou outros objectos. // Marca produzida por essa peça, que fica impressa em relevo.

Uma moeda cunhada é, portanto, aquela que sofre golpe ou pancada com cunha, sendo esta:

Cunha – Instrumento de ferro ou de madeira com duas faces cortadas em forma de ângulo bastante agudo, com uma aresta cortante, que serve para rachar lenha, fender pedras, cortar coisas.

Em qualquer circunstância, e em sentido denotativo, todo o objecto cunhado sofreu PRESSÃO de um CUNHO.

Na medida em que, no processo de fusão, por acção do calor, não existe pressão de nenhum cunho, um objecto fundido não é, logicamente, um objecto cunhado.

Por extensão significativa pode dizer-se que as marcas das peças fundidas caracterizam também um cunho? Por extensão significativa talvez sim, mas estaremos então no campo da conotação, não no campo da denotação. Os índios do Amazonas chamaram pássaro ao primeiro avião que viram. O avião é um pássaro? Não, um avião é um avião. Se alguém lhe chama pássaro, tem todo o direito de o fazer, mas não estará já no âmbito denotativo, que é o estritamente científico.

Conclusão:

a) Os lábios da Angelina Jolie têm um cunho especial? Sim! Os lábios são cunhados? Não!
b) A táctica do Jesualdo Ferreira tem um cunho especial? Sim! A táctica é cunhada? Não!
c) As moedas fundidas têm um cunho (especial)? Sim! As moedas fundidas são cunhadas? Não!
d) As moedas cunhadas têm um cunho? Sim! As moedas cunhadas são cunhadas? SIM!!!!

2006-08-16

A NUMERAÇÃO DAS MOEDAS DOS PRIMEIROS REIS

Numa das suas Dissertações Cronológicas (III), afirma João Pedro Ribeiro:

Póde notar-se, que principiando os papas desde o Século XI, e outros Soberanos já do X. Século, a declarar na Legenda de seus sellos o numero, que os distinguia dos seus Antecessores do mesmo nome, só o Senhor D. João II, entre nós principiou a declarar secundus.


Por sua vez, Ferraro Vaz, em texto da NVMMUS 18, Volume V-2, questiona a validade desta afirmação, lembrando que antes de João II já Afonso V ( Alfonsus Quintus) se denominava exactamente QUINTUS.

Tenho em minha posse alguns dinheiros de Sancho II e de Fernando I, com legenda numerada, que sugerem uma marcação propositada. Há outras situações, inclusive relativas a Sancho I, que são susceptíveis de análise no mesmo sentido.

Gostaria de conhecer outros textos que tratem destes assuntos e receberei com agrado comentários a este tópico.


*** Comentário nº 1 - José Matos, Alfonsvs

A ordem numérica do monarca nas moedas portuguesas verificou-se pela primeira vez, apenas com D. Afonso V (1438-1481), 12º rei de Portugal e 5º com esse nome.
A indicação numérica é ordinal e apresenta-se nas seguintes variantes: QVIN, QVINT, QVINTI e QVINTIS. Também por vezes aparece como ALFQ e ALFONQ

Quanto à possibilidade de moedas de reinados anteriores apresentarem esta numeração acho pouco provável:
D. Sancho I apresenta o seu nome como SANCIVS e por vezes a distribuição incorrecta dos espaços na gravação das legendas originou a abreviatura SANCI. Isto nos dinheiros por que nos morabitinos é sempre SANCIVS

No caso dos dinheiros e morabitinos de D. Sancho II é que se torna mais confuso, pois o nome SANCIVS aparece com frequência deturpado: SANCI, SANCII, SANCIII e SANCIIII
Até o único morabitino conhecido deste reinado apresenta SANCII.

Por fim, no caso dos dinheiros de D. Fernando I, aparece em complemento a PORTVGAL: PORTVGALI e também PORTVGALII

2006-08-04




CEITIL DE AFONSO V

Sou um amante do ceitil, unidade monetária dos tempos de Afonso V, o grande africano, a D. Sebastião, o depressivo africano.
Tenho uma bonita colecção de ceitis que tento enriquecer sempre que a oportunidade surge e a carteira comporta. No Fórum de Numismática concorri à “moeda do mês” com este belíssimo ceitil de Afonso V. Que acham?

2006-08-01

SILEPSE
De acordo com algumas definições mais ou menos usuais, a silepse é uma figura de linguagem, de estilo, ou, ainda, de sintaxe. Que seja de linguagem, compreende-se. Que seja artifício retórico, figura de estilo, exercício intencional, compreende-se. Quando se diz, em letra de canção, que

A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dentes
Tem gringo pensando que nós é indigente
Inútil, a gente somos inútil
Inútil, a gente somos inútil ( * In Alô Escola, TV Cultura, Brasil)

diz-se com a intenção de dizer, com a intenção de criar realces e não há, neste caso, erro lógico que nos valha.

Que seja figura de sintaxe, isso é que já parece muito mais problemático. Falar de regras de sintaxe significa falar de coisas relativamente simples como a verificação de que, em português, o sintagma nominal tem um núcleo (por exemplo, livro), que este núcleo pode ser determinado ( por exemplo, o livro), que este determinante comanda o género e o número ( o livro // *a livro // * os livro), mas também a pessoa verbal ( o livro é // * o livro são). Quer dizer, há uma lógica intrínseca à língua que conduz a estruturação das frases que vamos construindo no nosso dia-a-dia. O problema é que, a par de nomes contáveis como o do exemplo dado ( livro), que identifica inequivocamente um individual, há por aí outras palavras, outros nomes, que, possuindo morfologia singular, significam ou podem significar algo plural. É o caso de nomes como gente ou maioria que agem de formas diversas em contexto de verbos predicativos ou de verbos estativos. Morfologia singular, regras de sintaxe ou significado são expressões que remetem para níveis de análise diferente e daí alguma confusão: morfologia, sintaxe, semântica.
Se nos fixarmos estritamente nos aspectos lógico-gramaticais, sintácticos, é evidente que há erro em:

a) A gente somos inútil.
b) A maioria dos estudantes passaram.
c) O pessoal do Fórum são todos culpados.

O núcleo do grupo nominal, sendo “gente”, “maioria” e “pessoal”, explicitamente determinados por “A” e “O”, obriga às estruturas correctas:

A1) A gente é inútil.
A2) A maioria dos estudantes passou.
A3) O pessoal do Fórum é todo culpado.

O problema é que nem a língua é absolutamente lógica, nem o ser humano abdica de confundir os seus delicados neurónios. E assim mete o significado onde não devia, e acciona o factor semântico. A silepse é, assim, uma figura sintáctico-semântica que consiste em confundir forma e ideia: a concordância, que deveria ser formal ( como em A1)), é ideológica ( como em a)). Há silepses de género, de número ou de pessoa, e os exemplos abundam.

No sítio Ciberdúvidas surge, no entanto, um exemplo que merece alguma reflexão, dado accionar verbos que, não poucas vezes, agem especularmente. É o caso de:

d) A maioria são mulheres.

Deverá dizer-se A maioria é mulheres ou deverá entender-se que é possível formar o espelho Mulheres são a maioria?

Perguntas pequeninas, mas nem por isso menos importantes.

2006-07-30


BOM-JESUS, PENHA...
Ontem fui até à Penha, em Guimarães. Gosto de andar naquelas calçadas, nos carreiros estreitos por entre os rochedos. Há por lá umas tasquitas muito agradáveis, todo o ambiente é acolhedor e nota-se que todo o recinto, parque vegetal incluído, está muito bem tratado. Penso no Bom-Jesus de Braga, na Falperra e no Sameiro, com condições naturais extraordinárias, e faço a comparação. O Bom-Jesus está uma vergonha, a entrada e as calçadas muito mal tratadas. O parque, o arvoredo, muito mal cuidado. Não há a preocupação de limpar, não há a preocupação de bem receber. O parque que enquadra o Sameiro está, também ele, mal cuidado. Podiam limpar as matas, criar carreiros, sombras debaixo das árvores, mesas e bancos para as pessoas se sentirem bem. O que faz a confraria? Isola tudo, proíbe estacionamentos, parece querer enxotar as pessoas como quem enxota os cães. E a Falperra? Aquilo não podia estar muito mais bem aproveitado, mais acolhedor? Somos uns tristes, gastamos fortunas com estádios de futebol que servem meia dúzia e estamo-nos nas tintas para tudo o que nos dá qualidade de vida. Seremos atrasados mentais?

Fotografia Dias dos Reis

2006-07-27

O PERIGO DA LEITURA EXCESSIVA
Às vezes lemos, e não acreditamos. Grandes pensadores afirmam exactamente aquilo que nunca afirmaríamos, e fazem-no com tal convicção que nos sentimos quase derrotados face à argumentação utilizada. Arthur Schopenhauer, grande filósofo prussiano, a propósito da leitura, diz o seguinte ( texto adaptado):

Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: repetimos apenas o seu processo mental. Enquanto lemos, a nossa cabeça, na realidade, não passa de uma arena dos pensamentos alheios. E quando estes se vão, o que resta? Essa é a razão pela qual quem lê muito e durante quase o dia inteiro, mas repousa nos intervalos, passando o tempo sem pensar, pouco a pouco perde a capacidade de pensar por si mesmo. Tal é a situação de muitos eruditos: à força de ler, estupidificaram-se. Como uma mola que, pela pressão constante acarretada por meio de um corpo estranho, acaba por perder a sua elasticidade, também o espírito perde a sua devido à imposição contínua de pensamentos alheios. E, do mesmo modo como uma alimentação excessiva causa indigestão e, consequentemente, prejudica o corpo inteiro, pode-se também sobrecarregar e sufocar o espírito com uma alimentação mental excessiva.

O meu problema é exactamente este, nunca senti nenhuma indigestão, não consigo identificar o momento a partir do qual a minha leitura é excessiva. Quanto mais leio, mais me apetece ler, embora tenha a consciência de que preciso de filtrar o excesso de informação que caracteriza a contemporaneidade. Eduardo Prado Coelho diz que não lê textos internéticos, blogues ou similares por receio de afundamento. Fará bem? Este texto de Schopenhauer faz-nos pensar…

2006-07-25


TEOREMA DE FERMAT
Percebo pouco de Matemática. Aliás, percebo pouco de tudo, o que já não é mau, tendo em conta a minha suma ignorância.
Li há tempos um teorema que afirmava o seguinte : não existe nenhum conjunto de inteiros positivos x, y, z e n com n maior que 2 que satisfaça xn + yn =zn ( com n elevado = potência). A propósito deste teorema afirmou Pierre de Fermat que j'ai découvert une preuve tout à fait remarquable, mais la marge est trop petite pour l'écrire. Parece que, mais recentemente, Andrew Wiles o demonstrou totalmente. O interessante destes exercícios matemáticos é que não têm, pelos vistos, qualquer aplicação visível, são meros exercícios intelectuais. No Japão, um “cientista” parece ter-se dedicado a estudar a elasticidade das minhocas. Quem sabe um dia não descobre maneira de mergulharmos, qual diligente lumbrícida, docemente até ao centro da Terra? Entre os anéis de uma minhoca e as nervuras de um poema, o que é inquestionavelmente importante para mim? Sinceramente, delicio-me com o poema, mas olho respeitosamente a minhoca.
'TÊM HAVIDO' MUITOS ERROS
Anselmo Borges, padre e professor de filosofia, escreveu no Diário de Notícias do dia 23 de Julho de 2006 o artigo "‘Têm havido’ muitos erros", inscrito posteriormente no sítio Ciberdúvidas. Aborrece-se o autor, com toda a razão, quando vê a língua portuguesa maltratada por estudantes, jornalistas, professores e, pasme-se, até ministros! Eu, sinceramente, já passei a fase do aborrecimento, estou agora na fase da compreensão dos fenómenos, que, não poucas vezes, são do âmbito da psicologia. O verbo haver é um verbo muito complexo em português, complexidade resultante das suas múltiplas possibilidades significativas. Analisemos algumas:
a) Como auxiliar, pode assumir forma plural: Havíamos prometido ir ao jantar, mas não fomos. Com este valor significativo, soa um pouco a arcaísmo, e é geralmente substituído pelo verbo ter.
b) Com valor modal, na estrutura Haver de + Infinitivo, pode significar dever, possibilidade, obrigatoriedade, probabilidade, entre outros possíveis valores significativos. Também neste caso assume forma plural: Havemos de ir a tua casa provar o bacalhau à narcisa.
c) Como verbo pleno com o significado aproximado de achar, ou considerar, assume ainda forma plural: Os juízes haviam-no por muito inteligente.
d) Finalmente, como verbo pleno, impessoal e sempre no singular, haver significa existir ( Há moças muito bonitas!), acontecer ou ter lugar ( Houve um maremoto na Indonésia.) e passar-se (tempo) ( O jogo começou há cinco minutos.).
Como se pode ver, há razões psicológicas ( fenómenos de analogia, por exemplo) que explicam o uso “errado” deste verbo impessoal em formas plurais.
Há pelo menos duas circunstâncias a relevar quando procedemos a análises sintácticas de frases que contenham este verbo impessoal, ambas do âmbito argumental, externo ou interno. No que respeita ao primeiro argumento interno, todos (quase todos?) os dicionários etiquetam este verbo como sendo transitivo. Na frase Houve um maremoto na Indonésia., o grupo nominal um maremoto, funcionando como primeiro argumento interno, corresponderá ao objecto directo. Mas, sê-lo-á? Façamos dois testes, um com clítico outro com uma estrutura passiva:
e) Houve um maremoto na Indonésia. // ?Houve-o na Indonésia. // *Um maremoto foi havido na Indonésia.
A ser verbo transitivo, é-o de uma transitividade muito particular, a merecer estudo.
A segunda circunstância é relativa ao argumento externo, àquilo que o padre Anselmo Borges antevê, quando escreve Seria preciso perguntar-lhes qual é o sujeito do verbo. Ora, se é verdade o entendimento actual que assume a existência do princípio universal todas as línguas têm sujeito, não é menos verdade a “evidência” de que há fenómenos característicos de línguas particulares que parecem contrariar este princípio (por exemplo, o parâmetro do sujeito nulo - que acciona ou não - ou casos de verbos meteorológicos na língua portuguesa).
Que significa dizer “verbo impessoal”? Que não tem pessoa. Se não tem pessoa, não tem sujeito. Claro que deveríamos definir o que entendemos por sujeito, e essa definição seria muito complexa. Poderíamos dar uma definição psicológica, à maneira tradicional, ou poderíamos dar uma definição por constituência, à maneira generativa. Teríamos dificuldades, de um lado ou de outro. É verdade que em francês, por exemplo, o sujeito é obrigatório: Il y a. Mas em português, para além de não ser obrigatório, ele puramente não existe! Ajuda-nos supor a sua existência, como o faz o padre Anselmo Borges? Se ajuda, porque não supô-lo? [Ele] há moças muito bonitas? Se [ele] há… há. [Ele] há cada coisa...

2006-07-24


VELHO COMO A SÉ DE BRAGA
Segundo rezam as crónicas, a sé de Braga é a catedral mais antiga do país. Daí a expressão, a estrutura comparativa, conhecida de todos, velho como a sé de Braga. A verdade é que esta catedral, sendo realmente velhinha, está muito bem tratada. Aliás, todos os monumentos religiosos da cidade dos arcebispos estão, em geral, muito bem tratados, o que nos obriga a bater palmas à estrutura eclesiástica da cidade, sempre pronta a preservar estes belíssimos monumentos. Se conheço bem as cidades portuguesas, o centro da urbe bracarense é dos mais bonitos e ricos do nosso país. Os nossos antepassados cuidaram sem dúvida disto. Quando saio do centro, no entanto, aterro numa realidade bem diferente. Interesses de diversa índole destruíram, por exemplo, o vale de Lamaçães, pejado de tijolo e sem vislumbres minimamente florais. Procuro em Lamaçães um jardim, um parque, uma flor… Nem vê-los, quanto mais tê-los! Uma tristeza!
POEMA MEU VI

Pedi-te uma palavra,
Directa assim nos olhos.

Nada sentiste ou fixaste o longe.

Um beijo naufragava.

Há sempre brisa no cabelo,
Na pele aromas a lembrar
Da véspera o segredo.

Eu quis apenas a palavra.

Saíste altiva contra o vento,
A lágrima era o mar.

Copyright, José Silva

UMBERTO ECO
Quando li O nome da Rosa e O pêndulo de Foucault, já conhecia Umberto Eco. Já tinha lido a Obra Aberta e o fenomenal Tratado Geral de Semiótica. Numa linha textual mais interpretativa, li mais tarde Lector in fabula e Os limites da interpretação, entre ensaios e outros textos mais curtos. Umberto Eco foi e é, para mim, uma referência no âmbito da estética. Leio-o sempre com muito prazer. Nunca imaginei vê-lo romancista, mas O nome da rosa é um achado de grande erudição. A referência indirecta, por uma personagem, ao também grande Jorge Luís Borges, é genial. Claro que vou continuar a lê-lo.

2006-07-23

LEÃO HEBREU, PETRARCA...

Estou a reler os Diálogos de Amor, do Leão Hebreu. É certo que foram escritos em italiano, mas não é Hebreu um judeu português? E tão desconhecido, meu Deus... Os Diálogos de Amor são uma obra espantosa e não duvido que tenha servido ao nosso ilustre Camões. Fílon e Sofia, amor e desejo, fogo que arde sem se ver, ou, como diria Petrarca:

S' amor non è, che dunque è quel ch' io sento?
Ma s'egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond' è si dolce ogni tormento?

Leiam o Hebreu, se fazem o favor!
POEMA MEU V
(Senta-te aqui a meu lado)

Disseste-me de olhos quase em mágoa
Que não querias percorrer o meu caminho.
Compreendi-te e respondi que sim.

Olhei o vento da memória,
A secura dos dias sem tempo,
O calor das noites em vidraça,
A tristeza da profunda alegria,
O contentamento das lágrimas das aves.

No deserto preenchido da memória,
Vi-me trespassado pelos cactos…

Oh quem me dera voar no acolchoado das horas,
Em direcção aos meus avós,
Ao símbolo perfeito da perfeição do tempo,
Sem me sangrar o viço da derrota.

Compreendi-te, porque eu próprio,
Não quero repisar este caminho.

Quero planar na leveza do condor
E ver ao longe sempre um horizonte
De linhas imperfeitas.
Não creio na rectidão das rectas
Nem na beleza do Sol que incendeia
A seara loira do meu coração.
Tudo isso é incompleto,
Porque incompleta é a vida.
A vida é linha recta imperfeita,
E perfeito é o passado dos avós
E o futuro para além do meu futuro.

Por isso tens razão: não queiras, simplesmente,
Repetir o nulo dos meus passos.

Senta-te aqui a meu lado
E em uníssono respiremos as estrelas.

Copyright, José Silva

2006-07-22

FEIRAS DE NUMISMÁTICA DE PORTUGAL

Alguns amigos pediram-me para fixar neste blog informação sobre as feiras de numismática que se realizam em Portugal. Agradeço informações para manter esta lista actualizada. Vénia a Fórum de Numismática.

Abrantes � Praça Barão de Batalha � 1º Sábado � 8,30 h - 13 h.
Águeda � Praça do Município - 2º Domingo (Horário?)
Alcobaça - 3º Domingo
Albufeira � Junto à Estação da Rodoviária � 3º Sábado (9 em diante)
Almancil � Junto à Escola C+S � 2º e 5º domingo (Horário?)
Armação de Pêra � Junto ao Casino Antigo � 2º Sábado (Horário?)
Aveiro � Rossio �Mercado do Peixe - 4º Domingo (Horário?)
Azeitão. Domingos (?)
Barcelos - Largo da Porta Nova (centro da cidade) -2º Sábado-09:00-16h
Barcelos - Feira de Colecionismo e antiguidades. Campo da Feira - a 150m do posto da PSP - 4º Domingo - manhã.
Batalha � Frente ao Mosteiro � 2º Domingo (Horário?)
Beja � Núcl. de Colecc. dos Emp. do Hospital �Junto à Pr. da República � 4º sábado (Horário?)
Braga � Claustros da Rua do Castelo - 1º domingo do mês � 9-13 h
Caldas da Rainha � Parque D. Carlos I � 2º Domingo (Horário?)
Cartaxo - Junto ao Mercado Municipal - 2º domingo - (Horário?)
Castelo Branco �Escola Superior de Educação � 3º Domingo (horário?)
Coimbra � Praça do Comércio - 4º sábado do mês - Todo o dia
Entroncamento � Junto ao Pingo Doce � 1º domingo do mês (Horário?)
Ermesinde � Parque Urbano � 1º Domingo do mês �( Horário?)
Espinho � Avenida 24, junto ao hospital - 1º Domingo - Todo o dia
Estremoz - Todos os sábados
Évora � Largo Chão das Covas - 2º Domingo (Horário?)
Ferragudo � Baixa de Ferragudo � 2º Domingo (Horário?)
Figueira da Foz – Centro Comercial - 1º Sábado (Horário?)
Funchal � Direcção Regional Juventude �1º Sábado � 10-17 horas � R. 31 Janeiro, 79.
Fundão � Praça velha - Último Sábado (Horário?)
Fuzeta � Junto ao Parque da Campismo � 1º Domingo (Horário?)
Gouveia - Praça S. Pedro - 5º domingo do mês -Todo o dia - Em dias de chuva: entrada da Câmara Municipal.
Guimarães �Praça de S.Tiago-Praça da Oliveira - 1º sábado - Manhã
Ílhavo � 2º Sábado � (Onde?) (Horário?)
Lagos � (Onde?) Último sábado � 14 horas
Leiria � Praça Rodrigues Lobo - 2º Sábado (Horário?)
Lisboa � Cais do Sodré � Domingo de manhã (9 h - 13 h).
Lisboa � Feira da Ladra (Onde?) (Horário?)
Lisboa � Museu do Banco de Portugal - 3ª e 5ª na Av. Almirante Reis, 71 (Horário?)
Lisboa - Museu Numismático Português - Edifício da Casa da Moeda (Horário?)
Lisboa - Olivais Shopping Center, Espaço Lisboa, piso 2. � 1º Domingo - 10h às 19h
Lourosa - 4º Domingo de cada mês - Todo o dia
Mafra - Claustros - Sul do Palácio Nacional � 3º Sábado (Horário?)
Macieira de Cambra - centro - 5º Domingo - Todo o dia.
Maia � Castelo da Maia, junto ao ISMAI - 2º Domingo (Horário?)
Marinha Grande � Frente à Câmara Municipal � 4º Sábado (Horário?)
Matosinhos � Parque Basílio Teles - 4º Domingo (Horário?)
Monte Gordo � Calçada da praia � 4º Sábado (Horário?)
Óbidos � Parque de estacionamento � 1º Domingo (Horário?)
Olhão � Mercado de Quelfes � 4º Domingo (Horário?)
Ovar � Mercado Municipal - 3º Domingo - Todo o dia
Pinhal Novo � Av. Alexandre Herculano - Todos os domingos de manhã
Ponte de Lima � Avenida dos Plátanos � 2º domingo � 9-17 h
Portimão � Parque das Feiras e Exposições - 1º domingo
Porto � Praça D. João I � Todos os domingos (horário?)
Porto - Hotel Tuela � R.Gonçalo Sampaio, à Boavista � 1º Sábado -10-12,30 h; 14-18 h.
Porto - Feira da Vandoma - Todos os sábados no pátio da cadeia da relação - só de manhã
Porto - Feira ACP - Todos os domingos na associação católica portuense - só de manhã
Póvoa de Varzim � Praça do Almada - 2º Domingo � 9-17 h
Santo Tirso � Praça 25 de Abril (Câmara) - 2º Sábado (horário?)
S.Brás de Alportel � Pavilhão Polidesportivo � 3º Domingo (horário?)
S. João de Ver (Airas) - 2º Domingo de cada mês - Todo o dia
Sesimbra- 3º sábado � (Onde?Horário?)
Setúbal � 1º e 3º sábados do mês - Av. Luísa Todi - Todo o dia
Tavira - 1º Sábado de cada mês, junto ao mercado (Praça Nova).
Tomar - 2º Domingo
Torres Novas � Mercado Velho ou Praça 5 de Outubro � Último domingo (Horário?)
Torres Vedras � 3º Sábado (Onde? Horário?)
Vale de Cambra � 1º Domingo (Onde?Horário?)
Viana do Castelo � Jardim D. Fernando - 1º Sábado (Onde? Horário?)
Vila do Conde � Junto ao mercado - 3º Domingo (Horário?)
Vila Nova de Cerveira - Junto ao tribunal - 2º Domingo - Todo o dia
Vila Nova de Famalicão � Câmara � 4º domingo (Horário?)
Vila Nova de Gaia � Junta de Freguesia de Oliveira do Douro � 1º Sábado (Horário?)
Vila Real de Santo António � Praça Marquês de Pombal � 2º Sábado (Horário?)
Vila Verde - Centro - 3º domingo � 9-17 h
Viseu � Mercado 2 de Maio � Rua Formosa - 3º sábado do mês (Horário?)