2006-07-03


PROVINCIANO
Sou de Braga, sou da província do Minho, sou provinciano. O meu amigo Teles é de Lisboa, da província da Estremadura, não é provinciano. Sorrio. Sorrimos todos. Sorrimos da substancial diferença entre o físico e o espiritual. Leio Pessoa e não me sinto provinciano, não no sentido dele, porque não vislumbro nos outros mais do que em mim, porque não olho para a França com olhos deslumbrados, porque a conheço e outro mundo, e porque continuo a sentir-me profundamente português, a amar a minha pátria e a cidade onde nasci. Quanto mais conheço o mundo e as outras gentes, mais me convenço das minhas virtudes, das virtudes espantosas do ser português. Ser provinciano, hoje, em tempos internéticos, é mais do que elevação mística, é ser intrínseco à própria raiz da terra onde nascemos. Sentado nesta secretária recebo o mundo nas mãos, absorvo-o, transformo-o em mim, em nós, e rio-me dos pavões ( não das aves de plumagem singela) de todas as províncias estremenhas deste mundo.